segunda-feira, 9 de julho de 2007

MAIS UMA BOJARDA...

EIS MAIS UMA BELA BOJARDA DO TAVARES - publicada com a devida vénia



«"Estava Miguel Sousa Tavares na TVI a comentar a nova Lei do Tabaco quando da sua boca saltou esta pérola: o fumo nos restaurantes, que o Governo quer limitar, incomoda muitíssimo menos do que o barulho das crianças - e a estas não há quem lhes corte o pio. Que bela comparação. Afinal, o que é uma nuvenzinha de nicotina ao pé de um miúdo de goela aberta? Vai daí, para justificar a fineza do seu raciocínio, Sousa Tavares avançou para uma confissão pessoal: "Tive a sorte de os meus pais só me levarem a um restaurante quando tinha 13 anos." Há umas décadas, era mais ou menos a idade em que o pai levava o menino ao prostíbulo para perder a virgindade. O Miguel teve uma educação moderna - aos 13 anos, levaram-no pela primeira vez a comer fora.
Senti-me tocado e fiz uma revisão de vida. É que eu sou daqueles que levam os filhos aos restaurantes. Mais do que isso. Sou daquela classe que Miguel Sousa Tavares considerou a mais ameaçadora e aberrante: os que levam "até bebés de carrinho!". A minha filha de três anos já infectou estabelecimentos um pouco por todo o país, e o meu filho de 14 meses babou-se por cima de duas ou três toalhas respeitáveis. É certo que eles não pertencem à categoria CSI (Criancinhas Simplesmente Insuportáveis), já que assim de repente não me parece que tenham por hábito exibir a glote cada vez que comem fora - mas, também, quem é que acredita nas palavras de um pai? E depois, há todo aquele vasto campo de imponderáveis: antes de os termos, estamos certos de que vão ser CEE (Crianças Exemplarmente Educadas), mas depois saltam cá para fora, começam a crescer e percebemos com tristeza que vêm munidos de vontade própria, que nem sempre somos capazes de controlar.
O que fazer, então? Mantê-los fechados em casa? Acorrentá-los a uma perna do sofá? É uma hipótese, mas mesmo essa é só para quem pode. Na verdade, do alto da sua burguesia endinheirada, e sem certamente se aperceber disso, Miguel Sousa Tavares produziu o comentário mais snobe do ano. Porque, das duas uma, ou os seus pais estiveram 13 anos sem comer fora, num admirável sacrifício pelo bem-estar do próximo, ou então tinham alguém em casa ou na família para lhes tomar conta dos filhinhos quando saíam para a patuscada. E isso, caro Miguel, não é boa educação - é privilégio de classe. Muita gente leva consigo a prole para um restaurante porque, para além do desejo de estar em família, pura e simplesmente não tem ninguém que cuide dos filhos enquanto palita os dentes. Avós à mão e boas empregadas não calham a todos. A não ser que, em nome do supremo amor às boas maneiras, se faça como os paizinhos da pequena Madeleine: deixá-la em casa a dormir com os irmãos, que é para não incomodar o jantar."

João Miguel Tavares - Jornalista »

Manuel Arouca Viníciocontradito@yahoo.com

2 comentários:

Irina disse...

Brilhante. Curto e conciso. Crítica fina e certeira.
Pena que Miguel Sousa Tavares não saiba (ou não lhe interesse) dar valor a opiniões críticas contrárias às suas.

Sou fumadora mas não é por isso que tenho uma postura extrema como a de MST. Em restaurantes nunca fumo. Por respeito aos outros.

lawrence disse...

O tavares é uma etar com duas saídas.
1 - Trata a poia e sai pela boca
ou,
2 - Trata a poia e sai pela escrita.
O remanescente, fica e daí aquela coisa feia e fétida com forma de gente.
Como todos sabem o tavares é um fervoroso acólito duma grupo de arruaceiros que se auto-proclama de futebol clube do Porto. (Saravá ao Porto!)
Também sabemos que onde o tavares pôe fervor sai badalhoquice.
Num diário desportivo, aqui há umas semanas numa coluna que mais parece uma escarradeira, o tavares plasmou:
"Perguntou o 'DN':
como vai ser decidido o campeonato? 31,3% responderam «pelas arbitragens»; 26,3% «nos túneis»; e apenas 25,7% «no campo».
Eis ao que chegámos"

Respondo-lhe:

Vá lá que este ano já há 25,7% que pensa ser no campo.
O ano passado seriam muito menos!
Para o ano, serão muitos mais que os 25,7%.
Se chegámos a isto, olhemos para quem tem tido a hegemonia do futebol caseiro e perceberemos porquê.
Olhemos para a frase "Eis ao que chegámos" como um elogio ao que ele e outros da laia conseguiram nos últimos anos.