segunda-feira, 9 de julho de 2007

NÃO TE DEIXAREMOS MORRER FREEDOM TO COPY (2)

Repescámos esta interessante carta ao provedor do Público. Para verem como este mamífero se movimenta no pântano das influências canalhas....

«Ex.mo Senhor Provedor do Leitor,Hesitei antes de escrever o que segue e que se refere ao recente «caso» Sousa Tavares por me parecer evidente que dar o corpo ao manifesto não é o mesmo que pô-lo a jeito para suportar «pauladas». Digamos que em casos desta natureza agressiva, trauliteira, talvez a estratégia da fuga fosse a mais indicada. Ninguém no seu perfeito juízo, muito menos eu, se entrega, voluntariamente, a refregas com queixas-crime à mistura, sangue, suor e lágrimas. Poupo-me e poupem-me a esse dramático teatro porque disto mesmo se trata.O meu nome é Fátima Rolo Duarte e chegou-me hoje pelo tradicional correio, veja bem, o recorte da página que assinou no passado dia 12 de Novembro. Não compro habitualmente «O Público» e não o assino online.Não me surpreende o que acabo de ler em «A Frase Mais (Parte I)» porque desde o início me pareceu que a questão se prendia com o facto de jornalistas, bloggers, opinion makers, todos de uma forma geral (exceptuando os anónimos bloggers da discórdia e outros silenciosos anónimos como eu) não possuírem, no momento preciso do «motim» a bordo da modorrenta cultura lusa, o livro da polémica «Cette Nuit la Liberté» ou a versão inglesa «Freedom at Midnight». De facto, por motivos circunstanciais, sou bibliófila antes mesmo de ser bibliófaga, passe a metáfora.Directa ao assunto: depois de percorrer o blog «Freedom to Copy» procurei o meu exemplar de «Cette Nuit La Liberté» e o «Equador». Dispus-me então a seguir as pistas lançadas pelo referido blog e não me foi necessário muito tempo para descobrir tal como o tinham feito o(s) blogger(s) anónimo(s), os traços literários de ambiente que, por osmose (?!) passaram das primeiras páginas de «Cette Nuit la Liberté» para «Equador». Até aqui nada de especial, tirando a constatação de alguma inépcia por parte de Sousa Tavares para se ultrapassar enquanto criador. Não considero grave que um escritor utilize em proveito próprio um bom livro de outro autor ou autores. Em alguns casos pode revelar-se particularmente útil. Prosseguindo na leitura comparada das duas obras eis-me chegada às fatídicas páginas onde o trabalho de Sousa Tavares assume contornos do maior descuido, penoso descuido. Refiro-me ao capítulo X onde se detectam, com efeito, os deslizes que vão do mais prosaico aproveitamento ao disparate completo. Não são assim tantos como isso os exemplos de trasladação. Continuo a achá-los mais patéticos que graves. Enquanto criadora, o plágio nem sequer é assunto que me interesse e o anonimato não me serve como tema porque feita a leitura dos dois livros me pareceu, desde logo, matéria lateral embora não deixe de ser assunto. Veja o Provedor Rui Araújo que escrever: «'Koh-i-nor', o fantástico diamante de duzentos e oitenta carates que fora a Jóia da Coroa do Império Moghul da Índia» (Equador, pag. 245) e encontrar na página 249 de «Cette Nuit La Liberté»: «le 'Koh-i-Noor' - 'La Montagne de Lumière', un fabuleux diamant de 280 carats qui avait été le joyau du trésor des empereurs mogols» é mais um «facto histórico» a juntar a todos os outros que salpicam, pata aqui, pata acolá, algumas páginas de «Equador» e que coincidem, pata aqui, pata acolá, com os factos históricos de «Cette Nuit La Liberté» dando de barato que a tradução nem sequer é má mas apenas distraída. Substituir o facto histórico «Altesse Exaltée» («Cette Nuit La Liberté, pág. 247) que Lapierre e Collins grafam entre aspas, como mandam as regras, pelo «facto histórico» «Sua Exaltada Excelência» (aspas minhas, inexistentes em «Equador»); («Equador», pág. 246) é, certamente, mera coincidência que não me tira o sono e ora me faz sorrir, ora me arranca sonoras gargalhadas pois parece evidente que há mais «liberdade» poética em «Equador» que entrega minuciosa, académica até, ao que, na defesa de Sousa Tavares por Sousa Tavares é «facto histórico». Assumisse Sousa Tavares o seu gosto pelo sampling, a sua condição de escritor hip-hop e «pump up the volume» (entre aspas). Entenda o Provedor Rui Araújo que antes de não me levar a sério permito-me, por esse mesmo motivo, rir de mim tal como espero que os outros o saibam fazer em causa própria. Serve este mergulho na perplexidade para lhe explicar o óbvio? De modo algum. Vejo a «coisa» do ponto de vista humorístico. O que já não me parece assunto para rir é o que se prende com o tratamento jornalístico do caso. E aqui encontro matéria mais que suficiente para fazer da comunicação social a notícia antes e depois da notícia.Não lhe roubo mais tempo. É com muita pena que assisto ao descambar progressivo do jornalismo em Portugal servido por condutores (de) ligeiros e com que cartas de condução? Foi o que li nas suas palavras embora a sua presença me pareça sinal de alguma esperança.Melhores cumprimentosFátima Rolo Duarte»

Manuel Arouca Viníciocontradito@yahoo.com

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